Um pouco de história
A Medicina Chinesa Clássica (MCC) é composta de oito modalidades de tratamento, a fitoterapia, moxibustão, acupuntura, massagem, exercício taiji ou qigng, meditação, fengshui e a alimentação terapêutica (Frankis, 2016). É um erro pensar que a medicina chinesa foi criada há 5000 anos e é um erro assumir que a medicina chinesa que se pratica hoje, é a mesma medicina que se praticava no início. A MCC não assenta na metafísica ou no éter. Ela tem sido desenvolvida ao longo dos anos e tem sido influenciada pelas diferentes dinastias que tem atravessado. É uma medicina pragmática em relação aos sintomas, à anatomia e fisiologia do corpo humano. O seu objetivo é criar um sistema que promova uma vida saudável (Buck, 2015). A historiada MCC é a evolução de uma cultura ancestral profundamente enraizada no ciclo natural da vida (nascimento, crescimento, maturidade, declínio e morte) e a relação entre o ser humano e a natureza. Os ancestrais perceberam que o ser humano é um reflexo do cosmos, que vive entre o céu e a terra, estando conectado com estas energias. Daí ser relevante praticar um estilo de vida que vise a harmonia entre o céu e a terra (Frankis, 2016).
O que distingue a MCC das outras medicinas é a compreensão profunda e detalhada do sistema energético do corpo, uma rede de meridianos por onde o qi circula (Montakab, 2014). Nao existe uma palavra que traduza o termo qi, mas este termo pode ser interpretado como uma energia que anima a vida. Existe o qi saudavel e o qi pathologico (Frankis, 2016). De acordo com Kewn (2014), a fáscia (tipo de tecido conjuntivo que não tem forma própria, mas adquire a forma do órgão, músculo, tendão... que está a envolver) cria corredores de espaço por onde circulam os meridianos internos e externos, e por sua vez o qi.
O texto mais antigo de referência da medicina chinesa clássica é o Huang Di Nei Jing ou Nei Jing (O livro da medicina interna do Imperador Amarelo). Diz-se ter sido compilado pelo imperador amarelo Huang Di, que governou durante o período 296 a 2598 AC, e pelos seus ministros (Ling Shu). Este livro datado do século V a.C. é composto de duas partes. A primeira parte é o Su Wen (Questões simples) e refere-se a um diálogo entre o imperador e um dos seus discípulos. No diálogo são feitas perguntas relacionadas com natureza, o céu, a terra e o ser humano. A segunda parte é o Ling Shu (Pivot Espiritual ou Pivot Vital). Este texto também é conhecido por Canon da Acupuntura, pois é o primeiro texto que se refere especificamente à prática da medicina chinesa, da acupuntura e da moxibustão. (Liu Zheng-Cai et al. 2008). O Nei Jing foi reeditado no período de Shen Cong, entre 1068 e 1078 d.C. (Wu Jing-Nuan, 1993). Buck (2015) afirma que este livro foi sendo continuamente modificado e comentado ao longo das dinastias.
Houve um declínio do uso de medicina chinesa no fim do século XIX, com a divulgação da medicina convencional na China. Mais tarde, em 1929, foi criada uma lei que proibiu a prática da medicina chinesa.
Com a revolução cultural, que se iniciou em 1966 até 1976, o governo liderado por Mao Zedong compreendeu ser necessário criar um sistema de saúde que desse resposta ao crescimento rápido de uma população enfraquecida, criando a medicina tradicional chinesa (MTC). Esta medicina é de acordo com a forma de pensar comunista, o racionalismo e o ateísmo (Kirkwood, 2016). A história da medicina chinesa foi sintetizada de modo a preencher os currículos das universidades, assim como estabelecer pontes entre a medicina chinesa e a medicina convencional (Buck, 2015) (Bertschinger, 2013). A MTC foi também influenciada pela forma de pensar da medicina convencional de classificar sintomas, criar padrões de resposta e prescrever tratamentos de rápida resolução.
Mais tarde a MCC começou a ser reintroduzida por terapeutas com educação académica adequada como, por exemplo, o mestre Jeffrey Yuen, que mantem a tradição da qual é o 88º titular da linhagem da Escola Taoista da Pureza de Jade (Jade Purety School of Daoism, Yu Qing Pai) (Franks, 2016).
Anabela Santos