Um pouco do caminho da minha vida

Pouco passava do início de 1984, numa primavera a florescer, quando nasci no sul de França. Foi neste país, onde frequentei a pré-primária, que cresce o gosto e a admiração pela pintura. Durante este período, fui exposta a diferentes tintas, cores, texturas, materiais e formas. Uma experiência que me fez sonhar, abrindo um mundo tão etéreo e tão forte para eu explorar.

Vim viver para Portugal aos seis anos de idade. Muito ingénua, deparei-me com um sistema monótono, pouco aberto à criatividade e à liberdade de expressão. Foi um contraste que na altura eu não sabia entender. Mas mantive-me fiel a mim mesma e por volta dos catorze anos decidi prosseguir os meus estudos nas artes, sempre com o sentimento de que são as experiências da vida que originam a pintura.

Em 2008 terminei a minha licenciatura em Artes Plásticas. Ao longo dos anos que se seguem, desenvolvo um registo na pintura muito próprio. Dos traços pouco definidos até às formas humanas, a expressão artística pertence mais aos cantos da alma do que à razão firme. Os traços suaves deixam espaço a quem se disponibiliza a contemplar. O que fica por preencher é definido pela alma, pelo espírito de cada um. A minha pintura é um convite ao espiritual da vida.

Pouco passava do início de 2014, quando decidi ir viver para o Reino Unido. Sem planos definidos, mas cheia de entusiasmo e recetiva ao que a vida me podia proporcionar, inesperadamente em 2015 tomei uma decisão que veio transformar o modo de me relacionar comigo mesma e com o mundo. Inscrevi-me numa licenciatura em acupuntura. A descoberta da medicina chinesa criou um mundo em mim. Uma experiência dura e crua, onde comecei a desenvolver a devoção por quem sou e pelo que faço, a devoção interior que delicadamente move montanhas.

O Outono de 2023 fez um apelo e decidi regressar a Portugal. Atualmente vivo nas margens de um rio no interior de Portugal, mas a força do mar está sempre presente.

Anabela Santos